O que muda no Uruguai após a morte de Mujica?

Legado, vazio simbólico e a busca por novos líderes na política uruguaia

Montevidéu, 14 de maio de 2025 – A morte de José “Pepe” Mujica, aos 89 anos, representa mais que a perda de um ex-presidente: marca o fim de uma era na política uruguaia. Mujica não era apenas um político — era um símbolo. Sua imagem de humildade, autenticidade e coerência ultrapassou fronteiras e conquistou respeito internacional. Agora, com sua ausência, o Uruguai se depara com um vazio simbólico e uma pergunta inevitável: quem ocupará esse espaço?

O que muda no Uruguai após a morte de Mujica?

O impacto simbólico: o fim de uma era de simplicidade

Mujica foi um político raro. Ex-guerrilheiro, preso por 13 anos durante a ditadura, rejeitou luxos mesmo como presidente e viveu até o fim em sua chácara humilde nos arredores de Montevidéu. Sua morte representa o fim de um ciclo que ainda ecoava valores como a ética acima da ambição, a política como serviço, e a honestidade como prática, não discurso.

Embora tenha se afastado formalmente da política em 2020, sua influência permanecia viva. Seu simples apoio ou crítica podia influenciar debates públicos e decisões internas do partido Frente Ampla, coalizão da qual foi um dos pilares.

Com Mujica fora do cenário, a Frente Ampla perde sua principal figura conciliadora e carismática. A coalizão de esquerda, que governou o Uruguai por 15 anos (2005–2020), vinha tentando se reestruturar para disputar com força as eleições de 2025. A ausência de Mujica pode acelerar uma disputa interna por protagonismo, ou abrir espaço para a renovação política que o partido tanto precisa.

Há espaço para um novo Mujica?

Analistas políticos concordam: não há outro Pepe Mujica. Mas isso não significa que não haja espaço para novas lideranças. Jovens políticos como Yamandú Orsi, ex-intendente de Canelones e pré-candidato à presidência, têm ganhado visibilidade. Orsi, aliás, foi um dos poucos políticos citados por Mujica como “esperança de continuidade” dos ideais da esquerda humanista.

O que muda no Uruguai após a morte de Mujica?

No entanto, a nova geração terá que equilibrar carisma, coerência ideológica e pragmatismo para reconquistar a confiança de um eleitorado cada vez mais dividido e cético.

A morte de Mujica também deixa um vazio na política latino-americana, especialmente entre os líderes progressistas. Seu papel como “conselheiro informal” de presidentes como Lula (Brasil) e Gustavo Petro (Colômbia) era silencioso, mas influente. Sem ele, a esquerda regional perde uma voz que servia como ponte entre o idealismo e a realpolitik.

Mais do que uma mudança política, a partida de Pepe Mujica representa uma mudança de clima. Ele era, ao mesmo tempo, memória viva de resistência e exemplo de futuro possível. O Uruguai, agora, precisa olhar para frente — mas sem esquecer a lição que ele deixou: a política precisa de humanidade para continuar existindo.

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