O veneno que salvou vidas: como a jararaca brasileira levou à criação de um dos principais remédios contra hipertensão

O veneno que salvou vidas: como a jararaca brasileira levou à criação de um dos principais remédios contra hipertensão

Pode parecer improvável, mas um dos medicamentos mais importantes no tratamento da hipertensão arterial tem origem em uma das serpentes mais temidas do Brasil: a jararaca. Foi a partir do estudo do veneno dessa cobra que cientistas conseguiram desenvolver o captopril, o primeiro de uma nova geração de medicamentos que mudaria para sempre o combate à pressão alta.

A descoberta ocorreu nos anos 1970, quando pesquisadores observaram que o veneno da jararaca possuía a capacidade de provocar quedas acentuadas na pressão arterial de suas vítimas. Esse efeito chamou a atenção dos cientistas, que passaram a investigar quais substâncias presentes no veneno poderiam estar por trás dessa reação. Durante os estudos, identificou-se um peptídeo que inibia a enzima conversora de angiotensina (ECA), responsável por um mecanismo natural do corpo que eleva a pressão arterial. A partir desse princípio ativo, os pesquisadores desenvolveram o captopril, que se tornou o primeiro medicamento inibidor da ECA aprovado para uso clínico.

O impacto da descoberta foi imenso. O captopril representou um avanço significativo no tratamento da hipertensão, uma das doenças crônicas mais comuns no mundo, e abriu caminho para o desenvolvimento de uma classe inteira de medicamentos com efeitos semelhantes. Atualmente, os inibidores da ECA são amplamente prescritos, ajudando milhões de pessoas a controlar sua pressão arterial e prevenir complicações cardiovasculares graves, como infarto e AVC. O caso do captopril é um exemplo notável de como a natureza — mesmo em suas formas mais perigosas — pode oferecer caminhos valiosos para a medicina. Ele também destaca a importância da pesquisa científica de base e do investimento em estudos sobre biodiversidade, especialmente em países como o Brasil, que abriga uma enorme variedade de espécies ainda pouco exploradas.

A história do captopril mostra que, por trás de um animal temido, pode estar escondida uma das maiores contribuições à saúde pública mundial.

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