
Brasília — A estatal Correios, ícone do serviço postal brasileiro há mais de três séculos, enfrenta uma das maiores crises de sua história. O prejuízo registrado no primeiro trimestre deste ano dobrou em relação ao mesmo período do ano passado, acendendo um alerta vermelho no Palácio do Planalto e no mercado logístico.
Além das perdas financeiras expressivas, a empresa pública está sufocada por gargalos operacionais: falta de insumos essenciais, como papel e embalagens, paralisa parcial de centros de distribuição e atrasos sistêmicos no pagamento a fornecedores. Fontes internas relatam que alguns contratos estratégicos estão próximos de serem suspensos, o que pode comprometer ainda mais os prazos de entrega e a confiança da população.
A crise nos Correios tem múltiplas causas: a digitalização acelerada, que reduziu drasticamente o envio de cartas físicas; a concorrência cada vez mais agressiva de empresas privadas no setor de encomendas; e, sobretudo, a falta de investimentos estruturais ao longo dos últimos anos.
Para especialistas, a situação atual é o retrato de uma empresa que não conseguiu se reinventar diante das transformações tecnológicas. “Os Correios estão numa encruzilhada: ou aceleram uma modernização radical ou correm o risco de perder completamente sua relevância no cenário logístico brasileiro”, analisa o economista Luiz Fernando Borges, da Fundação Getulio Vargas.
Em meio ao caos, o governo federal avalia alternativas. Fontes próximas ao Ministério das Comunicações confirmam que há estudos avançados sobre uma nova rodada de reestruturação, com foco em cortes de gastos e possível revisão do modelo de atuação da estatal. A privatização, pauta que ganhou força nos últimos anos, volta a ser debatida nos bastidores, embora encontre forte resistência de setores sindicais e de parte da base política do governo.
Enquanto isso, milhões de brasileiros já sentem os efeitos da crise: atrasos na entrega de correspondências, extravios e maior dificuldade no acesso aos serviços postais, especialmente em regiões remotas do país.
A pergunta que ecoa nos corredores de Brasília é direta: os Correios sobreviverão à tempestade ou esta será a última carta entregue pela estatal?