
Você sabia que os Jogos Olímpicos já premiaram medalhistas em pintura, literatura, música e escultura, assim como fazem com atletas em provas de velocidade e força? Por mais improvável que pareça, entre 1912 e 1948, as artes fizeram oficialmente parte do programa olímpico — e concediam medalhas de ouro, prata e bronze como qualquer outra modalidade esportiva. A ideia partiu do barão Pierre de Coubertin, idealizador dos Jogos Olímpicos modernos. Para ele, o evento deveria resgatar o espírito dos jogos da Grécia Antiga, que celebravam não apenas o corpo, mas também o intelecto e a criatividade humana. A união de arte e esporte refletiria o ideal do “atleta completo”: aquele que cultiva tanto os músculos quanto o espírito. As competições artísticas eram divididas em cinco categorias: arquitetura, literatura, música, pintura e escultura — e todos os trabalhos precisavam ter como tema central o esporte. Os jurados eram especialistas de renome em suas respectivas áreas, e os vencedores recebiam medalhas iguais às dos atletas. Embora o projeto fosse ambicioso, as competições de arte nunca conquistaram o mesmo prestígio dos esportes. Algumas obras foram ignoradas pelo público, e outras até se perderam com o tempo. Ainda assim, artistas renomados participaram: o arquiteto finlandês Alvar Aalto chegou a submeter um projeto, e o próprio Pierre de Coubertin venceu uma medalha de ouro em literatura (usando um pseudônimo, para evitar conflitos de interesse).
O fim dessas competições veio após os Jogos de Londres, em 1948. O Comitê Olímpico Internacional alegou dificuldades em manter os critérios de amadorismo — muitos artistas viviam de suas obras, o que ia contra as regras olímpicas da época. A partir de 1952, as artes passaram a integrar os Jogos apenas como eventos culturais paralelos, sem disputa de medalhas. Hoje, pouca gente sabe que a arte já foi medalhista olímpica. Ainda assim, essa iniciativa curiosa nos lembra que o espírito olímpico não se limita às pistas, quadras ou piscinas. Ele também pode florescer na sensibilidade de um poema, nas linhas de um projeto arquitetônico ou nas cores de uma tela.

Uma parte esquecida da história dos Jogos que merece ser redescoberta — e celebrada.